Ciência: Refuta Ela a Bíblia?

Alan Feuerbacher


Este é um comentário sobre o capítulo 8 (pp. 98-116) "A Ciência: Refuta Ela a Bíblia?" do livro A Bíblia -- Palavra de Deus ou de Homem?, publicado pela Watchtower Society em 1989.

A completa falta de compreensão da Ciência por parte da Watchtower Society, e o fato de ao mesmo tempo fingir que percebe do assunto, foi um dos fatores principais que me abriram os olhos quanto à sua verdadeira natureza.

Capítulo 8 A Ciência: Refuta Ela a Bíblia?

Em 1613, o cientista italiano Galileu publicou uma obra conhecida como "Cartas Sobre as Manchas Solares". Nesta obra, ele apresentou evidência de que a terra orbita em torno do sol,

[N. do T.: no original em inglês, em vez de "orbita em torno do sol" está "rotates around the sun".]

Pormenor que revela a falta de familiaridade do autor do livro com a Ciência e com a sua terminologia: o termo "rotate" [rodar ou rotação] só é usado pelos astrônomos para descrever o movimento de um corpo em torno do seu próprio eixo, enquanto "revolve" [translação ou orbitar] refere-se a um corpo movendo-se em torno de outro corpo numa órbita. Assim, a terra tem um movimento de translação à volta do sol e um movimento de rotação sobre o seu próprio eixo.

em vez de o sol em torno da terra. Ao fazer isso, desencadeou uma série de eventos, que finalmente o levaram perante a Inquisição Católica Romana sob "veemente suspeita de heresia". Por fim, foi obrigado a "retratar-se". Por que era considerada heresia a idéia de que a terra se move em torno do sol? Porque os acusadores de Galileu afirmavam que isso era contrário ao que a Bíblia diz.

E isso é exatamente o que a Watchtower Society diz sobre os argumentos das pessoas que não concordam com ela.

Notemos que o livro mais tarde volta a este assunto para tentar responder às acusações feitas contra Galileu. Mas fá-lo à sua maneira habitual: constrói argumentos falaciosos do tipo straw man e depois refuta-os.

Hoje é bem difundida a idéia de que a Bíblia é anticientífica, e alguns apontam para as experiências de Galileu para provar isso. Mas, é isso verdade? Ao respondermos a esta pergunta, temos de nos lembrar de que a Bíblia é um livro de profecia, história, oração, lei, conselho e conhecimento sobre Deus. Ela não pretende ser um compêndio de ciência. Não obstante, quando a Bíblia toca em assuntos científicos, aquilo que ela diz é inteiramente exato.

Nem sempre. Às vezes a Bíblia reflete claramente os equívocos das pessoas daquele tempo. Por exemplo, pode provar-se de forma conclusiva que não existe evidência física que apoie um dilúvio global, portanto a história descrita em Gênesis -- se é que está relacionada com um acontecimento real -- descreve na melhor das hipóteses uma grande inundação local que se tornou numa lenda.

Nosso Planeta Terra

2 Tome, por exemplo, o que a Bíblia diz sobre o nosso planeta, a terra. No livro de Jó lemos: "[Deus] estende o norte sobre o vazio, suspende a terra sobre o nada."

Haveria muito a dizer sobre isto, mas notemos apenas que o filósofo grego Anaximandro (c. 6.º século A.E.C.) também pensava que a terra estava suspensa sobre o nada. Ele concebia a terra como um cilindro, suspenso sobre o nada no centro do céu, que era uma esfera oca que rodeava a terra. [w80 01/10 p. 11] Portanto, a referência da Bíblia à terra suspensa sobre o nada não é única.

Veremos também que todas as referências à forma da terra que encontramos na Bíblia indicam uma forma plana, circular -- não uma esfera. Portanto, se a referência da Bíblia a Deus "suspender a terra sobre o nada" é literal, não está muito longe da idéia de Anaximandro.

(Jó 26:7) Compare isso com a declaração de Isaías, que diz: "Há Um que mora acima do círculo da terra." (Isaías 40:22) O quadro apresentado, de uma terra redonda, 'suspensa sobre o nada', no "vazio", lembra-nos fortemente as fotografias do globo terrestre suspenso no espaço, tiradas por astronautas.

Este é um dos piores argumentos da Sociedade acerca de como a Bíblia é consistente com a ciência. A palavra hebraica traduzida por "círculo" dificilmente significa outra coisa além de "círculo", e na Bíblia significa círculo. Na Bíblia nunca significa "esfera". Quando analisamos todas as referências bíblicas a respeito da forma da terra, encontramos sempre a mesma imagem: a terra é uma estrutura plana, circular (como uma pizza) com a cúpula do céu suspensa sobre ela como uma tenda. O que a Sociedade fez foi tirar proveito da circunstância de a palavra inglesa "round" [assim como a palavra portuguesa "redonda"] poder descrever tanto uma esfera como um círculo.

Além disso, o argumento da Sociedade ignora o fato de muitos dos homens da antigüidade saberem perfeitamente que a terra é esférica. Quando lhes convém, os escritores da Watchtower até reconhecem isto. A revista Awake! [Despertai!] de 22 de Dezembro de 1977 (p. 17) reconheceu que o matemático grego Pitágoras, do 6.º século A.E.C., sabia que a terra é esférica. Muitos outros pensadores gregos também o sabiam, incluindo Anaxágoras (5.º século A.E.C.), Aristóteles e Aristarco (4.º século A.E.C.), Eratóstenes (3.º século A.E.C.; ele de fato mediu o diâmetro da terra com um erro de apenas 12% em relação ao valor correto), Hiparco (2.º século A.E.C.), e Ptolomeu (2.º século E.C.). Existe até evidência de que os antigos Sumérios, cerca de 2000 A.E.C., sabiam que a terra é esférica. Portanto, mesmo se escritores da Bíblia tiveram em mente a verdadeira forma da terra, isso não prova nada quanto à inspiração da Bíblia pois outros povos da antigüidade também conheciam a verdadeira forma da terra.

O que é que a Bíblia realmente diz acerca da forma da terra? A Bíblia não diz que a terra é esférica. Muito pelo contrário, todas as referências indicam, conforme disse acima, uma forma plana, circular, como uma pizza. Vejamos o que alguns textos dizem, para ficarmos com uma idéia geral.

Na Tradução do Novo Mundo, Daniel 4:10-11 relata o sonho de Nabucodonosor:

"'Ora, aconteceu que eu estava vendo as visões da minha cabeça, sobre a minha cama, e eis que havia uma árvore no meio [em inglês: midst] da terra, sendo enorme a sua altura. A árvore tornou-se grande e ficou forte, e a própria altura dela por fim atingiu os céus, e ela era visível até a extremidade da terra inteira.'"

A palavra "midst" significa "meio" ou "centro". De forma análoga, outras versões da Bíblia dizem "uma árvore no meio (ou centro) da terra". Este versículo diz que a árvore era visível até à extremidade da terra inteira, e portanto descreve uma terra plana, circular. A árvore ficava situada no centro e tinha o seu topo nos céus de forma a ser visível de qualquer ponto da terra. Isto seria impossível numa terra esférica. Mas a descrição é completamente consistente com a idéia de que Deus "mora acima do círculo da terra".

Daniel 4:10-11 descreve uma visão dada por Deus a Nabucodonosor, e a Sociedade diz que essa é uma das principais profecias da Bíblia. Por que razão daria Deus uma profecia de tal importância transmitindo uma imagem incorreta da forma da terra? Se Daniel e os seus contemporâneos tinham uma imagem mental da terra como uma esfera, e a visão apresentava a terra como uma esfera, qual era a parte da terra que podia ser chamada "o centro"? Como é que uma árvore, por muito alta que fosse, podia ser visível até às extremidades da terra? Se Daniel tinha uma imagem mental da terra como uma esfera, e a visão apresentava a terra como um círculo plano, com uma árvore no centro, não iria isso confundir Daniel e os seus leitores? A conclusão lógica é que a imagem mental que Daniel tinha acerca da forma da terra e imagem transmitida pela visão eram consistentes uma com a outra, e portanto a Bíblia sugere a idéia que os seus escritores tinham acerca da forma da terra. É uma área plana, circular, suficientemente larga para conter todos os reinos que os escritores da Bíblia conheciam, sendo os céus uma abóbada hemisférica colocada sobre a terra, de forma semelhante à imagem presente na mitologia grega. Se alguém disser que esse texto está apenas a usar linguagem pitoresca, então também se pode igualmente argumentar que Isaías 40:22 também está a fazer o mesmo. The Interpreter's Bible [A Bíblia do Intérprete] argumenta de forma similar:

.... a antiga concepção oriental da árvore do mundo.... era normalmente concebida como estando no umbigo do mundo, portanto no meio da terra. Nesse tempo pensava-se que a terra fosse um disco, sendo os céus como uma tigela virada ao contrário colocada sobre ela; assim, a árvore é retratada como crescendo no centro da massa de terra deste disco e estendendo-se para cima até o seu topo tocar na abóbada do céu, caso em que, é claro, seria visível de qualquer ponto ao longo da borda da massa de terra. [Vol. 5, p. 410, Abingdon Press, Nova Iorque, 1956]

A imagem que encontramos em Daniel é ainda reforçada pelo relato em que Satanás tenta Jesus. Mateus 4:8 diz:

Novamente, o Diabo levou-o a um monte extraordinariamente alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles.

Mais uma vez, a imagem é que todos os reinos do mundo podiam ser vistos a partir de uma montanha suficientemente alta, coisa que não é possível numa terra esférica. Se não era esta a imagem que se queria transmitir, então porque foi usada? O Diabo podia ter mostrado a Jesus todos os reinos do mundo a partir de qualquer outro lado.

Tendo em mente esta imagem de uma terra plana, circular, note como Isaías 40:22 faz todo o sentido:

Há um que mora acima do círculo da terra, cujos moradores são como gafanhotos, Aquele que estende os céus como uma gaze fina e que os estica como uma tenda em que morar.

Este texto e a imagem de uma terra plana, circular, com um tecto por cima, também faz sentido se considerarmos a forma como outras traduções da Bíblia apresentam esses versículos. Estes exemplos são típicos:

Deus senta-se entronizado no céu abobadado da terra. (The New English Bible [A Nova Bíblia Inglesa]

Não existe nada em Isaías 40:22 que contrarie a imagem de uma terra plana e circular. Outros textos apresentam uma imagem similar. Jó 22:14 diz a respeito de Deus:

... ele anda sobre a abóbada do céu. (Tradução do Novo Mundo)

... ele anda na circunferência do céu. (King James Version [Versão Rei James])

... ele vagueia na borda dos céus. (The Jerusalem Bible [A Bíblia de Jerusalém])

Jó 37:18 diz que os céus são duros como um espelho de metal:

Podes junto com ele achatar o céu nublado, Duro como um espelho fundido? (Tradução do Novo Mundo)

Podes, como ele faz, achatar a abóbada dos céus, dura como um espelho de metal fundido? (The New English Bible [A Nova Bíblia Inglesa])

Será que estendeste com ele o céu, que é forte como um espelho de metal pesado? (King James Version [Versão Rei James])

Será que tu.... estarás com ele para fortificar os céus, [que são] fortes como um espelho de metal? (The Bible in Living English [A Bíblia em Inglês Vivo])

Podes ajudá-lo a espalhar a abóbada do céu, Ou moldar esse espelho de metal fundido? (The Jerusalem Bible [A Bíblia de Jerusalém])

Quanto a ver a abóbada do céu como uma fina folha de metal, Isaías 34:4 menciona:

E os céus terão de ser enrolados, como o rolo dum livro. (Tradução do Novo Mundo)

... e os céus enrolar-se-ão para trás, como um rolo de papel. (The Bible in Living English [A Bíblia em Inglês Vivo])

The Interpreter's Bible [A Bíblia do Intérprete], Vol. 5, diz o seguinte a respeito das palavras de Isaías 40:22:

A terra é concebida como uma cúpula, Em Prov. 8:27, o círculo (hu'gh) é a "abóbada sobre a face do abismo" (teh'om); em Jó 22:14 Yahweh anda sobre a abóbada do céu.

É claro que o céu é imaterial. Aquilo que nos parece uma cúpula sólida sobre as nossas cabeças é simplesmente a dispersão de luz azul a partir da luz branca do sol. Muitos outros textos referem-se à terra associando-a a um círculo, e várias traduções apresentam os textos de uma forma que transmite a imagem de um círculo, não de uma esfera.

Muitos destes textos podem ser encarados como estando a usar liberdades alegóricas ou poéticas para transmitir uma idéia, em vez de estarem a fazer uma declaração literal acerca da forma da terra ou da composição da cobertura da terra. Mas esse é exatamente o ponto no caso de Isaías 40:22. De fato, esse texto não tem sentido absolutamente nenhum se for interpretado de forma completamente literal e pensando que Isaías tinha em mente uma terra esférica: a idéia de que Deus se senta "acima" da terra esférica significa que ele está lá fora algures no espaço, e está mesmo algumas vezes diretamente por baixo das pessoas que estão numa certa parte da terra, e outras vezes está ao lado. É verdade que podemos interpretar a expressão "acima" como sendo alegórica, mas isso desfere um golpe mortal na alegação de que as palavras de Isaías provam que ele sabia que a terra é esférica.

O livro de Jó, nos textos citados acima, obviamente usa tanto linguagem figurada como literal; quaisquer conclusões que mostrem qual das duas está a usar num caso particular estão abertas a muita controvérsia e serão influenciadas pelos preconceitos de quem estiver a argumentar. Por outras palavras, a Bíblia não pode ser usada para provar nada sobre o que os seus escritores acreditavam a respeito da forma da terra.

À luz de todos os textos bíblicos que falam de uma terra circular, céus como um espelho de metal fundido que pode ser enrolado, e a ausência de um contexto definitivo para Isaías 40:22 que mostre que se refere a uma esfera, não podemos afirmar que esse texto diz que a Bíblia é esférica. Portanto, Isaías 40:22 não pode ser usado para provar que os escritores da Bíblia foram divinamente inspirados.

A questão acerca do que Isaías 40:22 realmente quer dizer, ilustra o fato de que pode haver mais de uma interpretação para o que um escritor da Bíblia está realmente a dizer. Ao descrever a sabedoria, Provérbios 8:27 diz, segundo a Tradução do Novo Mundo:

Quando ele preparou os céus, eu estava lá; quando decretou o círculo sobre a face da água de profundeza

The Interpreter's Bible [A Bíblia do Intérprete] comenta (Vol. 4, p. 832):

Os versículos 27-31 descrevem a sabedoria no momento da criação do mundo. Ela viu Deus estender o firmamento como uma abóbada sobre a terra. Ela viu as poderosas águas de profundeza serem cercadas por grandes massas de terra, às ordens de Deus. Ela esteve ao lado de Deus quando ele criou o universo e as várias formas de vida que o haveriam de habitar. Circunferência ou círculo: O termo provavelmente refere-se à "abóbada" ou expansão sólida do céu que, como uma cúpula, se apoiava nas profundezas....

De modo similar, pode mostrar-se que muitos outros argumentos da Sociedade acerca da inspiração da Bíblia baseiam-se em wishful thinking [o que eles gostariam que fosse verdade].

3 Considere também o espantoso ciclo da água, da terra. A Enciclopédia de Compton descreve do seguinte modo o que acontece: "A água ... evapora da superfície dos oceanos para a atmosfera ... Correntes de ar em constante movimento na atmosfera da terra levam o ar úmido terra adentro. Quando o ar esfria, o vapor condensa-se para formar gotículas de água. Estas costumam ser vistas mais como nuvens. Freqüentemente, essas gotículas se juntam para formar gotas de chuva. Se a atmosfera estiver bastante fria, formar-se-ão flocos de neve, em vez de gotas de chuva. De qualquer modo, a água que viajou desde um oceano por centenas ou mesmo milhares de milhas cai para a superfície da terra. Ali se junta em correntes ou penetra no solo, e inicia sua viagem de volta para o mar."1

4 Este notável processo, que possibilita haver vida em terra seca, foi bem descrito na Bíblia cerca de 3.000 anos atrás, em termos simples e diretos: "Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez." -- Eclesiastes 1:7, A Bíblia na Linguagem de Hoje.

A única coisa que não é completamente óbvia no texto citado é a idéia de que as águas retornam ao local de onde originalmente saíram. Mas mesmo isto não é uma afirmação particularmente surpreendente. Deixo ao cuidado do leitor descobrir porquê.

5 Talvez ainda mais notável seja a compreensão da história dos montes provida pela Bíblia. O seguinte é o que um compêndio de geologia diz: "Desde tempos pré-cambrianos até o presente, o processo perpétuo do desenvolvimento e da destruição de montes tem continuado.... Os montes não somente se têm originado do leito de mares desaparecidos, mas freqüentemente têm sido submersos muito depois da sua formação, e então novamente elevados."2 Compare isso com a linguagem poética do salmista: "Cobriste-a [a terra] de água de profundeza como vestimenta. As águas pararam acima dos próprios montes. Montes passaram a subir, vales planos passaram a descer -- ao lugar que para elas fundaste." -- Salmo 104:6, 8.

Aqui deparamo-nos com uma das falhas típicas da Watch Tower Society: atribuem a uma fonte muito mais autoridade do que ela merece, citando fontes desatualizadas e afirmando que as descrições obviamente poéticas de algumas passagens da Bíblia são de alguma forma cientificamente exatas.

Quando verificamos a nota " 2 " na seção das referências do livro gm [p. 191], descobrimos que a citação foi tirada de The Book of Popular Science [O Livro da Ciência Popular], da Grolier, publicado em 1967. Um livro cujo título contém as palavras "ciência popular", por definição, não é um "manual de geologia" [N. do T.: o original do gm, em inglês, diz que o livro da Grolier é um "geology textbook", expressão mais específica do que aquela que aparece na edição brasileira: "compêndio de geologia".] Qualquer pessoa que discorde disto é ignorante a respeito da ciência e da indústria livreira. É óbvio que o autor do livro gm tenta arranjar apoio para o seu argumento atribuindo à sua fonte mais autoridade do que ela merece. É claro que isto, por si só, nada diz acerca da exatidão da fonte citada.

Contudo, em seguida reparamos na data da fonte: 1967. Nos anos 60, a ciência da geologia passou por uma revolução centrada na teoria conhecida como "placas tectónicas". Em 1967 a ciência das placas tectónicas ainda estava a ser trabalhada por vários geólogos em muitos fóruns, incluindo jornais científicos padrão. As descobertas definitivas, que foram publicadas no fim das décadas de 1960 e 1970, não passaram para as obras populares senão muito mais tarde, e muitas destas só se tornaram disponíveis na década de 1980. As obras populares de 1967 ainda refletiam o fato de os cientistas até essa data só terem uma idéia muito vaga quanto à origem das montanhas e assim por diante, e tanto quanto se sabia, as montanhas e os vales subiam e desciam esporadicamente sem nenhum motivo. A citação da Watch Tower Society reflete muito bem essa ignorância. Por exemplo, em 1967 os livros "populares" sobre geologia não tinham idéia nenhuma de como as ilhas do Hawai -- uma cadeia vulcânica gigantesca que se estende desde a grande ilha do Hawai até à península de Kamchatka -- se formaram. Mas os geólogos estavam a trabalhar e posteriormente descobriram. Serão dadas referências a pedido. Naturalmente, a Watch Tower Society e o livro popular que eles citaram não sabiam nada acerca destes desenvolvimentos. Porque será que a Sociedade escolheu citar um livro desatualizado, se em 1989, quando o livro gm foi publicado, já estavam disponíveis muitos livros bons sobre as placas tectónicas?

Por fim, o leitor pode considerar a idéia extremamente óbvia da Bíblia de que as montanhas subiram e os vales desceram, e que no passado as "águas" cobriram-nos. Novamente, se o leitor precisar de uma explicação acerca de porque isto é óbvio, eu dá-la-ei de bom grado.

"No Princípio"

6 Logo o primeiro versículo da Bíblia declara: "No princípio Deus criou os céus e a terra." (Gênesis 1:1) As observações feitas por cientistas os têm levado a teorizar que o universo material de fato teve um princípio. Não existiu sempre. O astrônomo Robert Jastrow, agnóstico em assuntos religiosos, escreveu: "Os pormenores diferem, mas os elementos essenciais no relato astronômico e nos relatos bíblicos de Gênesis são os mesmos: a cadeia de eventos que conduz ao homem começou súbita e distintamente num momento definido do tempo, num clarão de luz e energia."3

7 É verdade que muitos cientistas, embora creiam que o universo teve princípio, não aceitam a declaração de que "Deus criou". Não obstante, alguns admitem agora que é difícil não fazer caso da evidência de alguma espécie de inteligência por detrás de tudo. O professor de física Freeman Dyson comenta: "Quanto mais eu examino o universo e estudo os pormenores da sua arquitetura, tanto mais evidência encontro de que o universo, em certo sentido, deve ter sabido que nós estávamos chegando."

8 Dyson prossegue, admitindo: "Sendo eu cientista, treinado nos hábitos do pensamento e da linguagem do século vinte, em vez de nos do século dezoito, não afirmo que a arquitetura do universo prova a existência de Deus. Afirmo apenas que a arquitetura do universo é coerente com a hipótese de que a mente desempenha um papel essencial no seu funcionamento."4 Seus comentários certamente revelam a atitude céptica dos nossos tempos. Mas, deixando de lado tal cepticismo, observa-se uma notável harmonia entre a ciência moderna e a declaração bíblica de que "no princípio Deus criou os céus e a terra". -- Gênesis 1:1.

Waw. Tantas palavras para descrever um conceito tão simples: a maioria dos cientistas e a Bíblia concordam que tudo teve um princípio. A maioria das civilizações antigas também concordam que tudo começou num certo momento. E daí? Será que os escritos e as lendas dessas civilizações foram inspirados pelo Deus da Bíblia? É claro que não. Então, porque é que alguém argumentaria que uma lenda em particular -- a versão da Bíblia a respeito das origens -- tem de ser encarada de modo diferente?

Saúde e Saneamento

9 Considere a maneira de a Bíblia abranger outro campo: a saúde e o saneamento. Quando um israelita tinha uma mancha na pele de que se suspeitava ser leprosa, ele era posto em isolamento. "Será impuro todos os dias em que a praga estiver nele. Ele é impuro. Deve morar isolado. Seu lugar de morada é fora do acampamento." (Levítico 13:46) Até mesmo as vestes contaminadas eram queimadas. (Levítico 13:52) Naqueles dias, esta era uma maneira eficaz de impedir que a infeção se espalhasse.

Este é um exemplo absolutamente clássico de um escritor que joga com a ignorância dos seus leitores para "provar" o seu ponto. O autor do livro gm escreve como se a Bíblia falasse sempre de "lepra" em termos da doença conhecida hoje como "lepra" ou doença de Hansen. Isto está longe de ser verdade, conforme o autor da Watch Tower Society sabe perfeitamente. Uma breve análise a todas as descrições que a Bíblia faz da "lepra" mostra que se trata de uma ampla variedade de doenças humanas, bem como outras coisas infecciosas, que podem infectar não apenas pessoas mas também roupas e casas. A doença conhecida hoje como "lepra" é extremamente não-infeciosa e tem sintomas muito bem conhecidos. A maioria destes sintomas não são consistentes com as descrições bíblicas. Além disso, as pessoas podiam recuperar-se da "lepra" de que fala a Bíblia, ao passo que a lepra "verdadeira" era incurável antes do advento das drogas modernas. Ninguém sabe o que a lepra bíblica realmente era, apenas sabemos que quase de certeza incluía a doença de Hansen. No caso de lidar com a "lepra" em casas e roupas, o teste bíblico era olhar para o item infectado ao longo de um certo período de tempo e observar se a "lepra" se espalhava. Se se espalhava, o item devia ser destruído. O mesmo se passava no caso da lepra em humanos: se se espalhava, a pessoa era isolada e se desaparecia a pessoa fazia uma cerimônia e era declarada limpa.

O ponto principal é que as descrições bíblicas de "lepra" são talvez consistentes com alguma compreensão da propagação da doença através de contato entre humanos, e refletem a observação simples de que casas e roupas podiam ficar infectadas com algo que se podia espalhar ou desaparecer, mas o livro gm não mostrou que isto é resultado de conhecimento divinamente inspirado. De fato, as referências a lepra em casas e roupas refuta essa suposição.

10 Outra lei importante tinha que ver com a eliminação do excremento humano, que tinha de ser enterrado fora do acampamento. (Deuteronômio 23:12, 13) Esta lei, sem dúvida, resguardou Israel de muitas doenças. Até mesmo hoje, em alguns países, criam-se graves problemas de saúde por causa da eliminação imprópria dos dejetos humanos. Se as pessoas nessas terras tão-somente seguissem a lei escrita há milhares de anos na Bíblia, teriam muito mais saúde.

Dificilmente se poderá afirmar que "cava um buraco e enterra os teus excrementos" é uma mensagem divinamente inspirada. Tal afirmação está a par com o resto das "instruções divinas" da Sociedade.

O fato é que mesmo em tempos antigos as pessoas sabiam e muitas vezes implementavam boas práticas de saneamento. Os romanos tinham excelentes sistemas de canalizações, incluindo esgotos para dejetos humanos. A palavra inglesa "plumbing" (canalização) vem do latim "plumbum" que significa chumbo, o metal a partir do qual os romanos faziam a maior parte das suas canalizações. Os habitantes de Minos (Creta) da antigüidade, já em 1600 A.E.C. tinham canalizações dentro de casa e bons sistemas de esgotos. Se os israelitas estavam a marchar pelo deserto durante 40 anos, não é muito surpreendente que alguns deles se queixassem devido aos excrementos espalhados por todo o lado e depois conseguissem que fosse feita uma lei que dizia "enterrem isso!"

11 As elevadas normas de higiene, da Bíblia, até mesmo envolviam a saúde mental. Um provérbio bíblico diz: "O coração calmo é a vida do organismo carnal, mas o ciúme é podridão para os ossos." (Provérbios 14:30) Em anos recentes, a pesquisa médica demonstrou que nossa saúde física de fato é afetada pela nossa atitude mental. Por exemplo, a Doutora C. B. Thomas, da Universidade de Johns Hopkins, estudou mais de mil pessoas formadas na universidade, durante um período de 16 anos, confrontando as características psicológicas delas com a sua vulnerabilidade a doenças. Uma coisa ela notou: As pessoas formadas mais vulneráveis a doenças eram aquelas que mais se zangavam e que mais ansiosas ficavam sob pressão.5

Mais uma vez, dizer que uma sugestão para se acalmar tem de vir necessariamente de Deus, é forçar os fatos.

O Que Diz a Bíblia?

12 Se a Bíblia é tão exata em campos científicos, por que dizia a Igreja Católica que o ensino de Galileu, de que a terra se movia em torno do sol, era antibíblico? Por causa da maneira em que as autoridades interpretavam certos versículos da Bíblia.6

Aqui a Sociedade resvala para terreno altamente sensível. Porque é que os líderes das Testemunhas de Jeová no passado ensinaram que eram anti-bíblicas as afirmações dos médicos de que as vacinas eram benéficas para a saúde? Por causa da maneira em que o Corpo Governante interpretava certos versículos da Bíblia. O mesmo se pode dizer quanto ao ensino deles sobre os transplantes de órgãos, a idéia de que o coração literal era a sede das emoções, a afirmação de que a personalidade de uma pessoa residia no sangue, a alegação de que Deus mantinha o seu trono na estrela Alcyone, na constelação das Plêiades e a alegação de que Cristo voltou em 1874 e que "os santos" tinham sido ressuscitados em 1878.

Estão a acusar os outros daquilo que eles próprios são culpados.

De fato, o argumento do livro gm fornece um bom exemplo de como "provar" algo, ignorando tudo aquilo que é inconveniente:

Tinham razão? Leiamos duas destas passagens que citavam, e vejamos.

13 Uma passagem diz: "O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se a voltar ao seu lugar para novamente tornar a nascer." (Eclesiastes 1:5, A Bíblia de Jerusalém) Segundo o argumento da Igreja, expressões tais como "o sol se levanta" e "o sol se deita", significavam que o sol, não a terra, se locomove. No entanto, mesmo hoje, dizemos que o sol se levanta e se põe, e a maioria de nós sabemos que é a terra que orbita, não o sol. Quando usamos expressões assim, apenas descrevemos o aparente movimento do sol, conforme parece ao observador humano. O escritor bíblico fez exatamente o mesmo.

Este argumento parece muito convincente para muitas pessoas hoje, que estão a par dos satélites espaciais e das viagens à lua. Mas no tempo de Galileu, muitos religiosos ignorantes só tinham as palavras da Bíblia para se guiarem. Não diz a Bíblia que Deus criou a terra em seis dias, que a terra está fixa nas suas fundações, que o sol se levanta e se põe e que Deus criou especificamente cada espécie animal? Quantas destas afirmações, entre muitas outras, podem ser devidamente avaliadas sem a ajuda de ciência sólida? A resposta é: poucas.

14 A outra passagem diz: "Assentaste a terra sobre suas bases, inabalável para sempre e eternamente." (Salmo 104:5, A Bíblia de Jerusalém) Isto foi interpretado como significando que a terra, após a sua criação, não se podia mais locomover. Na realidade, porém, este versículo enfatiza a permanência da terra, não a sua imobilidade. A terra nunca será 'abalada' para deixar de existir, ou ser destruída, conforme outros versículos da Bíblia confirmam. (Salmo 37:29; Eclesiastes 1:4) Este texto tampouco tem algo que ver com os movimentos relativos da terra e do sol. No tempo de Galileu, foi a Igreja, não a Bíblia, que impediu o livre debate científico.

Mais uma vez, vemos a Sociedade a tomar a liberdade de interpretar algumas passagens da Bíblia como sendo figurativas e outras como literais. Note que não é assim tão fácil para alguém que lê a Bíblia de forma literal lidar com o que Jó 38:6 diz acerca da terra:

Em que se fundaram seus pedestais de encaixe, ou quem lançou a sua pedra angular?

Será que esta passagem está a falar da permanência da terra? Como é que alguém pode saber ao certo?

Quando outras passagens são examinadas de forma similar, torna-se óbvio que a Sociedade está pronta a interpretar as passagens da Bíblia de forma literal ou figurativa, não com base num método sistemático, mas arbitrariamente e baseada no seu entendimento presente da "ciência".

Evolução e Criação

15 No entanto, há um campo em que, segundo muitos, a ciência moderna e a Bíblia irremediavelmente divergem. A maioria dos cientistas crê na teoria da evolução, a qual ensina que todas as coisas vivas evoluíram duma forma simples de vida, que veio à existência há milhões de anos.

O primeiro erro neste tópico surge imediatamente: "a evolução" não é uma teoria homogênea esculpida na pedra de forma acabada por alguma autoridade. É um conjunto de idéias e teorias acerca de como a vida veio a ser o que é. A subsecção dessa teoria freqüentemente mencionada como "as origens", é distinta da subsecção por vezes chamada "descendência com modificações". Só alguém completamente ignorante em ciência -- ou alguém com intenções de enganar os seus leitores -- iria misturar todas as subsecções numa grande "teoria da evolução" -- não existe tal coisa. Muitos "evolucionistas" rejeitam todas as idéias atualmente conhecidas acerca das origens e ficam-se pelas teorias de "descendência". Outros certamente avançam as suas idéias acerca das origens mas admitem candidamente que são especulativas.

O escritor do livro gm cai na falácia lógica, que é muito comum, de assumir que existem duas e só duas explicações mutuamente exclusivas para algo, que uma delas tem de estar completamente correta e a outra completamente errada. Esta é a armadilha do 'pensamento a preto-e-branco', na qual caem tantas pessoas religiosas.

A Bíblia, por outro lado, ensina que cada um dos principais grupos de coisas vivas foi criado especialmente

Não necessariamente. Usando o mesmo tipo de lógica que o escritor do livro usa para explicar os problemas de uma interpretação literal das passagens acerca de "o sol ficar parado", é fácil "mostrar" que Gênesis é consistente com a teoria evolucionária da descendência com modificações. Gênesis não dá nenhuma escala de tempo para os dias criativos, e é muito possível que Deus tenha criado de forma especial muitos tipos de criaturas, uma de cada vez, ou que tenha criado poucos tipos que evoluíram gradualmente até aos muitos que vemos hoje, bem como o grande número de formas extintas do registo fóssil, ou até que ele tenha criado apenas um tipo no princípio, que depois evoluiu até todas as coisas vivas que vemos hoje. Até é possível que Deus tenha simplesmente criado as condições sob as quais a vida podia ter surgido mais ou menos por si só. Em todos estes casos Deus ainda é o criador último e o autor da vida. Além disso, a maioria dos cientistas acha que a ciência não está numa posição de dizer seja o que for acerca das origens últimas.

O registo fóssil certamente mostra uma longa história da vida, na qual muitas formas surgiram e se extinguiram, sendo substituídas por um conjunto de formas inteiramente novo. Algumas destas formas existiram durante milhões de anos. Os escritores da Watchtower parecem desconhecer tudo isto.

e se reproduz apenas "segundo a sua espécie".

Essa é uma noção extremamente vaga e nenhum religionista conseguiu dar uma definição razoável de "espécie". No Lago Vitória, em África, existe uma população de peixes chamados "cichlids", que é uma categoria geral formada por dezenas de espécies. Estas espécies variam muito em forma física e em hábitos. Algumas comem vegetação, outras são predadoras. Uma espécie só come as escamas de outros peixes, que consegue obter mordendo-os de lado. Outra espécie só come os olhos de outros peixes; precipita-se sobre eles e morde o olho até o fazer sair. Nenhuma das várias formas acasala com as outras. Aparentemente todas descenderam de uma população ancestral que ficou isolada no Lago Vitória uns 10.000 anos atrás, aproximadamente no fim da última era glaciar. Se isto não é "descendência com modificações" de forma a produzir novas espécies, então não sei o que será. Ninguém conhece limites para tais modificações, especialmente se estiverem envolvidos milhões de anos em vez de apenas poucos milhares.

Ela diz que o homem foi criado "do pó do solo". (Gênesis 1:21; 2:7) Trata-se aqui dum flagrante erro científico da Bíblia? Antes de decidirmos isso, examinemos mais de perto o que a ciência realmente sabe, em confronto com o que ela teoriza.

O que o escritor quer dizer é 'examinemos o que a Sociedade deixa a ciência saber.' Tal e qual como a Igreja Católica e Galileu.

16 A teoria da evolução foi popularizada no século passado por Charles Darwin. Quando Darwin estava nas ilhas Galápagos, no Pacífico, ficou muito impressionado com as diferentes espécies de tentilhões nas diversas ilhas, todos os quais, segundo deduziu, devem ter descendido de apenas uma espécie ancestral.

Exatamente como os peixes "cichlids" do Lago Vitória. Os "cichlids" têm muito mais variação do que os tentilhões das Galápagos.

Parcialmente por causa destas observações, ele promoveu a teoria de que todas as coisas vivas provinham de uma só forma original simples. A força impulsora por detrás da evolução das criaturas superiores a partir das inferiores, segundo ele, era a seleção natural, a sobrevivência do mais apto. Graças à evolução, segundo ele alegava, os animais terrestres se desenvolveram de peixes, as aves de répteis, e assim por diante.

Isto é correto. Darwin e outros teóricos daquele tempo basearam estas idéias na seqüência física muito óbvia que vai dos peixes até aos répteis e depois até aos mamíferos, e assim por diante. É claro que, dito deste modo, é uma simplificação extrema. Seja como for, a ciência da genética confirmou muito bem as seqüências físicas aparentes, pois quanto mais distantes em termos de parecença física ou em termos de tempo, forem duas espécies de criaturas, tanto mais diferentes são geneticamente. Por exemplo, o ADN dos chimpanzés e o dos humanos é 99% idêntico. Eles são obviamente constituídos fisicamente de forma muito similar e a evidência fóssil indica que houve um ancestral comum há cerca de 6 milhões de anos. As rãs são outro caso interessante. Existem milhares de espécies, e diferem umas das outras em termos físicos e genéticos muito mais do que os chimpanzés e os humanos. Eles também já andam por cá há uns 300 milhões de anos e tiveram muito mais tempo para se diversificarem geneticamente.

17 Na realidade, o que Darwin observou naquelas ilhas isoladas não estava em desacordo com a Bíblia, que permite variações dentro de uma principal espécie viva.

Esta é uma frase típica da Watchtower. Como a Bíblia não diz absolutamente nada sobre isso, não pode estar 'em desacordo' com seja o que for que se diga sobre esse assunto.

Por exemplo, todas as raças da humanidade procederam de apenas um casal humano original. (Gênesis 2:7, 22-24)

É claro que a Sociedade apresenta logo uma explicação para as seqüências de humanos e criaturas semelhantes a humanos que se vêem no registo fóssil. Adiante veremos uma explicação quanto ao lugar que ocupa na história da humanidade o rapaz Homo erectus com dois milhões de anos, que foi encontrado em África em 1984, um rapaz cujo corpo era muito semelhante ao de um humano atual exceto por ser muito mais robusto, mas cuja cabeça era completamente mal-formada pelos padrões actuais e que tinha um cérebro com menos de 2/3 do tamanho do cérebro de um humano moderno.

De modo que não é estranho que aquelas diferentes espécies de tentilhões descendessem duma espécie ancestral comum. Mas estes continuaram a ser tentilhões. Não evoluíram para se tornar falcões ou águias.

Não, mas alguns peixes "cichlids" evoluíram e tornaram-se herbívoros e outros tornaram-se predadores. Como é que isso poderia acontecer se as "espécies" fossem absolutamente imutáveis?

18 Nem as diversas espécies de tentilhões, nem qualquer outra coisa que Darwin viu, prova que todas as coisas viventes, quer tubarões, quer gaivotas, elefantes ou minhocas, tenham tido um ancestral comum.

É verdade, mas a razão pela qual essa prova não foi apresentada é que, em princípio, não pode ser apresentada. Nenhuma ciência histórica pode apresentar provas no mesmo sentido em que as assim chamadas 'ciências duras' apresentam. Não podemos fazer experiências com acontecimentos passados; só podemos tentar interpretá-los e apresentar uma explicação razoavelmente consistente. Pela mesma ordem de idéias, ninguém pode provar grande coisa acerca da Bíblia ou acerca do que ela diz sobre coisas que não foram encontradas no registo arqueológico. Vemos aqui uma duplicidade de critérios por parte da Sociedade.

Todavia, muitos cientistas afirmam que a evolução não é mais apenas uma teoria, mas sim um fato.

Mais uma vez deparamo-nos com uma simplificação grosseira que chega ao absurdo. Que as coisas vivas evoluíram, no sentido de a população das coisas vivas ter mudado radicalmente ao longo do tempo, foi provado de forma tão conclusiva quanto é possível numa ciência histórica. Rejeitar isso é rejeitar toda a ciência. É verdade que muitos cientistas afirmam que Deus não existe e que a vida surgiu inteiramente por si mesma (e isto não pode ser provado de nenhum modo), mas estes dois conceitos -- a evolução da vida e a sua origem -- são conceitos independentes. Os escritores da Watchtower dependem da ignorância dos seus leitores para levarem avante o tipo de "raciocínio" apresentado no livro.

Outros, embora reconheçam os problemas da teoria, dizem que crêem nela mesmo assim. É popular fazer isso.

Humm. Parece que "outros" têm o mesmo problema de muitas Testemunhas de Jeová: acreditam em algo que tem sérios problemas apenas porque isso é popular entre os seus associados.

Nós, porém, precisamos saber se a evolução foi provada a tal ponto, que a Bíblia tem de estar errada.

Mais uma vez vemos aquele tipo de pensamento a preto e branco.

Foi Provada?

19 Como se pode testar a teoria da evolução? A maneira mais óbvia é examinar a documentação fóssil, para ver se realmente houve uma gradual mudança de uma espécie para outra.

Este é um argumento extremamente comum que tem sido popularizado largamente pelos criacionistas "científicos" [que acreditam que a terra foi criada em seis dias literais]. Darwin propôs que a evolução da vida teria de ser extremamente gradual. Contudo, os paleontólogos desenterraram muita evidência de que a vida evoluiu a ritmos extremamente variáveis, desde praticamente nenhuma mudança ao longo de milhões de anos até ao ritmo extremamente rápido observado nos peixes "cichlids" do Lago Vitória. O registo fóssil está tão disperso no tempo que é improvável encontrar um registo de evolução extremamente rápida; ainda assim, tais registos foram descobertos.

Por exemplo, foi proposto há muito tempo que alguns répteis evoluíram até se tornarem mamíferos. É claro que a verdadeira história é muito mais complicada, e eu apenas farei uma bordagem superficial, dando um exemplo de mudança que está documentado no registo fóssil.

Formas primitivas de répteis tinham um maxilar formado por quatro ossos. Também tinham um osso do ouvido. Ao longo de um período de uns 100 milhões de anos apareceram novos animais que tinham cada vez mais características de mamíferos, que têm um osso no maxilar e três nos ouvidos. Espantosamente, dois dos ossos do maxilar do réptil aparentemente migraram para a cabeça e tornaram-se ossos do ouvido em vários tipos de animais durante este período, e outro osso desapareceu. Não é possível, diz o leitor? Bem, os cangurus, os "bandicoots" e os ouriços caixeiros têm um tipo de migração de ossos similar durante o seu desenvolvimento embrionário. Até foram descobertos fósseis de animais que têm dois sistemas de maxilares funcionando lado a lado, um deles semelhante ao sistema antigo e outro semelhante ao novo. Para detalhes acerca disto, consulte:

  • Ashley Montagu, ed., Science and Creationism [Ciência e Criacionismo], p. 247, Oxford University Press, New York, 1984.

  • D. R. Selkirk e F. J. Burrows, editores, Confronting Creationism: Defending Darwin [Confrontando o Criacionismo: Defendendo Darwin], pp. 82-92, New South Wales University Press, Kensington NSW Australia, 1988.

  • James A. Hopson, "The Mammal-like Reptiles: A Study of Transitional Fossils," The American Biology Teacher ["Os Répteis Semelhantes a Mamíferos: Um Estudo de Fósseis de Transição", O Professor Americano de Biologia], vol. 49, no. 1, p. 25, Janeiro, 1987.

Em seguida, repare no que um cientista muito conhecido disse acerca dos detalhes da evolução dos répteis para mamíferos (G. Ledyard Stebbins, Processes of Organic Evolution [Processos de Evolução Orgânica], pp. 142-148, Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, New Jersey, 1971). Ele falou daquilo a que chamou formas de transição entre várias categorias de animais, bem como a origem destas:

Se as categorias se tornam bem definidas porque as formas intermédias entre elas se extinguem, então na história dos grupos que têm um bom registo fóssil deveríamos se capazes de encontrar períodos em que as categorias que agora estão bem definidas, estavam ligadas por formas transicionais. Se analisarmos o registo fóssil dos vertebrados, é exatamente isto que vemos. Entre os animais modernos, as famílias do cão e do urso são encaradas como definitivamente relacionadas uma com a outra, mas mesmo quando são considerados todos os membros contemporâneos das duas famílias, ninguém tem qualquer dificuldade em distinguir ursos de cães, raposas e coiotes. No Mioceno e no início do Plioceno, contudo, a situação era diferente. Nesse tempo, eram comuns animais intermédios entre os cães e os ursos, de modo que os paleontólogos têm grande dificuldade em decidir exatamente quando é que as famílias do cão e do urso se separaram uma da outra...

Recuando ainda mais no registo fóssil, vemos que na última parte do período Eoceno, animais primitivos que são agora claramente reconhecidos como precursores das principais famílias de carnívoros: cães, gatos, doninhas, almíscares, e os outros semelhantes, estavam ligados uns aos outros por uma rede complexa de semelhanças.

Existem... muitas diferenças entre répteis modernos e anfíbios quanto à estrutura dos seus esqueletos, e estes foram usados pelos paleontólogos para reconhecer quais foram os primeiros répteis que surgiram. Um paleontólogo eminente, A. S. Romer, comenta o seguinte a respeito destes animais: "Os répteis primitivos do Paleozóico e alguns dos primeiros anfíbios tinham esqueletos tão similares que é quase impossível dizer quando atravessamos a fronteira entre as duas classes."...

Existe a mesma situação no caso da evolução inicial dos mamíferos. As características que são peculiares aos mamíferos modernos; sangue quente, pelos, e a capacidade de amamentar as suas crias, não podem ser determinadas através da observação dos fósseis. No que diz respeito aos seus esqueletos, contudo, os répteis modernos e os dinossauros são muito diferentes dos mamíferos modernos. Por outro lado, os animais que dominavam a terra no fim do Período Permiano e no início do Triássico, antes de os dinossauros aparecerem, eram os terápsidos, que tanto nos esqueletos como nos dentes estavam numa situação intermédia entre os répteis típicos e os mamíferos primitivos.

Durante o Período Triássico, os terápsidos deram origem a vários grupos de répteis muito ativos, pequenos e de ossos leves, que devido aos seus dentes especiais eram conhecidos como os "dentes de cão" ("cynodonts") ... Estes animais existiram durante mais de vinte milhões de anos durante a última metade do Período Triássico. Os seus esqueletos eram semelhantes aos dos mamíferos em muitos aspectos, exceto no fato de ainda não terem adquirido os três ossos dos ouvidos que são típicos dos mamíferos... os complementos de dois deles (quadrado e articular) ainda faziam parte do maxilar inferior... Esqueletos recentemente descobertos indicam que a mudança do maxilar para os ossos do ouvido ocorreu de forma gradual. Comentando esta situação, um eminente paleontólogo, E. H. Colbert, observa: "Tudo isso indica como é acadêmica a questão de onde acabam os répteis e começam os mamíferos."...

Os primeiros mamíferos verdadeiros surgiram no fim do Período Triássico, aproximadamente na altura em que os cynodonts se estavam a extinguir. A era dos dinossauros começou mais tarde, durante o Período Jurássico. Durante todo o período em que a terra foi dominada por estes répteis gigantes, existiam pequenos mamíferos ativos, lado a lado com os dinossauros.

Estes fatos dizem-nos que a transição de répteis para mamíferos foi muito gradual, ocorrendo ao longo de um período de aproximadamente 100 milhões de anos. Ocorreu simultaneamente com o início da maior diversificação adaptativa dos próprios répteis. Os mamíferos são simplesmente uma extensão adicional, através da evolução direcional, de uma linha divergente particular de répteis.

A transição dos répteis para os pássaros está documentada de forma mais pobre do que as outras transições entre classes de vertebrados. Ainda assim, muitos dos répteis mais pequenos do grupo de antecessores dos dinossauros e dos crocodilos tinham esqueletos leves a partir dos quais esses pássaros podiam ter surgido, e além disso caminhavam exclusivamente sobre patas traseiras, como os pássaros. Mais ainda, os fósseis de pássaros mais antigos, provenientes de depósitos do Jurássico da Alemanha, tinham maxilares com dentes e membros dianteiros com dedos bem desenvolvidos... Classificamo-los como pássaros porque estão preservadas penas junto com os seus esqueletos; mas se a sua preservação tivesse de algum modo sido mais pobre e as penas não estivessem presentes, estes animais podiam muito bem ter sido classificados como répteis.

Assim, o registo fóssil dos vertebrados sugere fortemente que as características que distinguem as categorias superiores modernas, apareceram primeiro como aspectos distintos de certas espécies de gêneros. Só se tornaram características de famílias, ordens e classes depois de os animais que primeiro as possuíram as terem desenvolvido mais, dispersando-se em muitos nichos adaptativos, e tornando-se separados de outros grupos através da extinção das formas intermédias. No caso de outros grupos de organismos como os insetos e as plantas superiores, para as quais o registo fóssil é muito mais fragmentário, existem profundas lacunas entre muitas ordens, sub-ordens e classes. Além disso, não são conhecidas formas transicionais entre nenhuma das principais divisões de animais ou plantas. Tendo em consideração a natureza incompleta e desequilibrada do registo fóssil no caso de todos estes grupos, e o tempo extraordinariamente longo, medido em centenas de milhões de anos, desde que as várias divisões de organismos evoluíram, as grandes lacunas que existem entre muitas categorias principais de organismos além dos vertebrados, são razoavelmente atribuíveis a imperfeições conhecidas no registo fóssil...

Há outro ponto que tem de ser mencionado e que está relacionado com a evolução das famílias, ordens e classes. É a sua característica de "mosaico". Conforme já foi mencionado em relação à evolução dos anfíbios a partir dos peixes e dos mamíferos a partir dos répteis, as várias características que agora distinguem a classe mais evoluída, provavelmente evoluíram separadamente, algumas relativamente cedo, outras muito mais tarde, em períodos do tempo evolutivo que em alguns casos estavam separados entre si por milhões de anos...

Consequentemente, não podemos falar de nenhum "passo" isolado na evolução dos mamíferos a partir dos répteis. Em alguns casos, como a mudança de posição dos ossos do maxilar para o ouvido, um número relativamente pequeno de mudanças genéticas pode ter despoletado a evolução e estabelecimento de um novo complexo adaptativo a respeito dessa característica em particular... Contudo, estas mudanças teriam ocorrido ao nível das subespécies ou ao nível das espécies muito aparentadas. Se transportássemos um taxonomista contemporâneo que não conhecesse nada acerca do futuro evolutivo para a era Mesozóica, ele teria provavelmente classificado a primeira população que tinha todos os três ossos; martelo, bigorna e estribo, no seu ouvido médio, como sendo uma espécie aberrante, pertencente ao grupo então muito difundido dos répteis terápsidos. Conforme foi dito acima, este grupo provavelmente já possuía uma mistura de características que agora associamos por um lado com os répteis e por outro lado com os mamíferos.


Será que houve? Não, conforme admitem honestamente uma série de cientistas. Um deles, Francis Hitching,

Aqui há um sério problema. Francis Hitching não é cientista. Ele é um escritor de programas tablóides para a televisão, é um paranormalista e é uma figura cimeira na comunidade dos videntes. Ele escreveu acerca da energia das pirâmides Maias e escreveu para alguns episódios da série "In Search Of..." ["Em Busca de..."], da televisão BBC (similares ao programa sensacionalista "Unsolved Mysteries" ["Mistérios Não Solucionados"] da televisão americana). Parece que ele aceita a evolução mas acredita que foi dirigida por uma espécie de força cósmica. A obra de referência Contemporary Authors [Autores Contemporâneos] (vol. 103, página 208) menciona-o como sendo membro da Society for Psychical Research [Sociedade para Investigação Psíquica], da British Society of Dowsers [Sociedade Britânica de Videntes] e da American Society of Dowsers [Sociedade Americana de Videntes]. Os seus escritos incluem: Earth Magic [Magia da Terra]; Dowsing: The Psi Connection [Vidência: A Ligação Psi]; Mysterious World: An Atlas of the Unexplained [Mundo Misterioso: Um Atlas do Inexplicável]; Fraud, Mischief, and the Supernatural [Fraude, Embuste e o Sobrenatural] e Instead of Darwin [Em Lugar de Darwin].

Um dos livros mais populares de Hitching foi The Neck of the Giraffe [O Pescoço da Girafa] (Ticknor & Fields, New Haven, Connecticut, 1982), A Sociedade citou ou plagiou este livro mais de uma dúzia de vezes no seu livro de 1985 intitulado Life -- How Did It Get Here? By Evolution or by Creation? [A Vida -- Qual a Sua Origem? A Evolução ou a Criação?]. O livro The Neck of the Giraffe [O Pescoço da Girafa] passa grande parte do tempo a atacar a evolução darwiniana, tomando de empréstimo muita informação, de forma indiscriminada, dos argumentos dos criacionistas "científicos". Uma revista (Creation/Evolution Newsletter [Newsletter Creação/Evolução], 7, No. 5, pp. 15-16, Setembro/Outubro 1987) disse o seguinte acerca de Hitching:

Falando da Biblical Creation Society [Sociedade da Criação Bíblica], havia uma carta interessante no número de Janeiro de 1983 do seu jornal Biblical Creation [Criação Bíblica] (p. 74) acerca de uma recensão crítica do livro de Francis Hitching de 1982 intitulado The Neck of the Giraffe [O Pescoço da Girafa]. O livro de Hitching é fortemente anti-Darwinista, e é saudado entusiasticamente pela maioria dos criacionistas (embora ele também ridicularize os criacionistas fundamentalistas). A carta, escrita pelo criacionista Malcolm Bowden (autor de The Rise of the Evolution Fraud [A Ascensão da Fraude Evolucionista], indica que Hitching simplesmente "seleccionou a sua informação a partir da literatura criacionista." Este é de fato o caso: são citadas favoravelmente muitas obras criacionistas (Anderson, Coffin, Clark, Daly, Wysong e ainda vários anti-Darwinistas). Hitching cita o livro anterior de Bowden Ape-Men -- Fact or Fallacy? [Homens-Macaco -- Facto ou Falácia?], mas Bowden acusa Hitching de "tomar" várias passagens e ilustrações do seu livro sem o devido agradecimento: por outras palavras, plágio. "O livro de Hitchin [sic] é essencialmente uma exposição do ponto de vista dos criacionistas, praticamente desde o princípio ao fim", indica Bowden... Hitching é também um paranormalista, um defensor da evolução psíquica... [O livro de Hitching] Earth Magic [Magia da Terra] é uma interpretação arrojada, muito divertida e completamente psíquica, das estruturas megalíticas... Hitching também inclui no seu esquema os cataclismos cósmicos, a Atlântida, piramidologia, vidência, PES [Percepção Extra-sensorial], curas milagrosas, e astrologia.

The Neck of the Giraffe [O Pescoço da Girafa] é em geral um livro muito pobre sobre o assunto da evolução. Hitching demonstra uma séria má-compreensão da ciência e de como ela é praticada. Ele também baseia muitos dos seus argumentos nos criacionistas "científicos", apesar de rejeitar a maior parte das afirmações deles. Hitching tem uma missão: promover o seu amor aos fenômenos paranormais e as suas idéias da "evolução psíquica".

É legítimo perguntar: Quando um escritor religioso afirma que uma pessoa envolvida no paranormal é um cientista, o que está ele a tentar conseguir com isso?

escreve: "Quando se procuram elos entre os principais grupos de animais, esses simplesmente não existem."7

Essa é uma referência ao livro The Neck of the Giraffe [O Pescoço da Girafa]. Ao apoiar os seus argumentos nos argumentos que os criacionistas "científicos" usam, Hitching deu um tiro no pé. Para contra-argumentos, veja as referências feitas anteriormente acerca da evolução dos répteis em mamíferos.

Esta falta de evidência na documentação fóssil é tão óbvia, que os evolucionistas surgiram com alternativas da teoria de Darwin, de uma mudança gradual.

Outra distorção grosseira típica do livro Creation [Criação], da Watch Tower Society. Aqui eles referem-se à teoria chamada "Equilíbrio Pontuado", que foi promovida pelo paleontólogo Stephen Gould e pelos seus colegas. Esta idéia reconhece que a maior parte da mudança evolutiva é lenta ou não-existente e propõe que, sob circunstâncias pouco usuais, a evolução pode ocorrer a um ritmo extremamente rápido. Como a maior parte das mudanças não aparecerão no registo fóssil, pois a probabilidade de um animal se tornar fóssil é reduzida, o registo fóssil parece uma seqüência de fotografias de um jogo de futebol, tiradas a intervalos de 30 segundos -- falta a maior parte da ação mas o desenrolar geral pode ser inferido.

Conforme mostram as referências apresentadas acima, existe muita evidência fóssil tanto para a evolução gradual como para a evolução "pontuada". Naturalmente, Darwin propôs uma teoria incompleta, que tem sido modificada à luz de desenvolvimentos posteriores. Isto não é nenhuma surpresa, pois é desse modo que a ciência se faz. A ciência não é um corpo estático de conhecimentos dados por Deus, é antes um corpo dinâmico de conhecimento sempre sujeito a modificações se e quando novas descobertas clarificam idéias ou até mesmo fazem com que idéias antigas sejam rejeitadas. É claro que algumas coisas estão tão solidamente estabelecidas que é extremamente improvável que sejam alguma dia rejeitadas.

Na realidade, o que o escritor do livro gm faz é argumentar que como as idéias de Darwin foram modificadas, toda a teoria da evolução -- o que existia em 1859 e o que existe hoje -- junto com toda a evidência para os diferentes aspectos das várias sub-teorias -- deve ser rejeitada. Ele faz isto usando a noção vaga segundo a qual como a idéia de Darwin de uma evolução exclusivamente gradual teve de ser modificada para levar em conta o aparecimento no registo fóssil de evolução extremamente rápida, a idéia de Darwin devia ser rejeitada junto com as teorias mais recentes. A falácia do argumento da Watch Tower Society deve agora ser óbvia para todos os leitores.

No entanto, a verdade é que o repentino aparecimento de espécies de animais na documentação fóssil apoia muito mais a criação especial do que ela apoia a evolução.

É uma questão de opinião. O grau em que cada uma é apoiada é objecto de intenso debate.

20 Além disso, Hitching mostra que as criaturas vivas são programadas para se reproduzirem com exatidão, em vez de evoluírem em outra coisa.

Outra falácia do tipo non-sequitur. É claro que as criaturas vivas contêm material genético para se reproduzirem de forma exata. Mas não são 100% exatas. É por isso que acontecem as mutações.

Ele diz: "As células vivas se reproduzem com fidelidade quase que total. O grau de erro é tão ínfimo, que nenhuma máquina de fabricação humana pode chegar perto disso. Há também restrições inerentes. As plantas atingem certo tamanho e se negam a crescer mais. As moscas-das-frutas negam-se a se tornar outra coisa senão moscas-das-frutas, não importa quais as circunstâncias que se inventem."8 Mutações, induzidas por cientistas durante muitas décadas em moscas-das-frutas, não conseguiram forçar estas a evoluir em outra coisa.

É verdade, mas a própria natureza tem fornecido muitos exemplos de coisas que evoluíram em outras. O mecanismo exato pode ser assunto de debate, mas o fato de a evolução ter acontecido não é.

A Origem da Vida

21 Outra questão espinhosa que os evolucionistas deixaram de resolver é: Qual foi a origem da vida?

Mais uma vez, notamos que o escritor da Watch Tower Society mete tudo no mesmo saco, "descendência com modificação" -- que é fortemente indicada pelo registo fóssil -- junto com idéias acerca das origens, que admitidamente são vagas. Este tipo de procedimento permite que pessoas que são fracos pensadores acreditem que tudo o que metem no mesmo saco tem igual valor, o que é uma falácia grosseira.

Como veio a existir a primeira forma de vida simples -- da qual todos nós supostamente descendemos?

Ninguém discute que essa é uma questão que ainda não teve resposta.

Há séculos, isto não teria parecido problema. A maioria das pessoas acreditava então que as moscas podiam desenvolver-se de carne em decomposição e que uma pilha de trapos velhos podia produzir espontaneamente ratos. No entanto, há mais de cem anos, o químico francês Louis Pasteur demonstrou claramente que a vida só pode proceder de vida preexistente.

Outra falácia. Pasteur demonstrou que hoje e num curto período de tempo a vida não aprece espontaneamente. Ele não demonstrou nada acerca das condições que podem ter existido há muito tempo atrás, nem acerca de se a vida se pode gerar espontaneamente sob as condições apropriadas.

22 Então, como explicam os evolucionistas a origem da vida?

A maior parte deles não explica. Eles aceitam que a vida, depois de aparecer (seja como for que isso tenha acontecido), evoluiu segundo certos mecanismos até ao que é hoje. Esses mecanismos são o que preocupa 99% dos cientistas da vida hoje. Os poucos que se ocupam com uma teoria puramente não-sobrenatural das origens subscrevem o que o escritor do livro gm descreve:

Segundo a teoria mais popular, uma combinação casual de substâncias químicas e de energia provocou uma geração espontânea de vida, há milhões de anos. Que dizer do princípio provado por Pasteur?

Repare novamente na noção errada acerca do que Pasteur provou.

A Enciclopédia Delta Universal explica: "Pasteur mostrou que a vida não pode originar-se espontaneamente nas presentes condições químicas e físicas da terra. Bilhões de anos atrás, porém, as condições químicas e físicas da Terra eram muitíssimo diferentes"!9

Como é que o escritor do livro gm pode apresentar esta citação e inverter completamente o que é dito, é algo que não consigo compreender. Reparem na forma desonesta como ele se desembaraça do problema:

23 Mesmo sob condições bem diferentes, porém, há uma enorme brecha entre matéria inanimada e a coisa viva mais simples.

Tendo "demolido" desta forma a teoria da evolução, o escritor do livro gm vira-se agora para um autor completamente desacreditado:

Michael Denton, no seu livro Evolução: Uma Teoria em Crise, diz: "Entre uma célula viva e o sistema não-biológico mais altamente ordenado, tal como um cristal ou um floco de neve, há o mais vasto e absoluto abismo que se possa imaginar."10

Existe uma abundância de informação disponível nas livrarias e na Internet que mostra que muitas das idéias de Denton estão erradas. Em particular, o leitor interessado pode consultar o FAQ do grupo de discussão "talk.origins" (em inglês).

A idéia de que matéria inanimada possa passar a ter vida por algum acaso fortuito é tão remota, que é impossível. A explicação bíblica, de que 'vida procede de vida', visto que a vida foi criada por Deus, está convincentemente em harmonia com os fatos.

Isso é verdade. Mas a explicação "evolutiva" também está em harmonia com os fatos.

Por Que Não Aceitam a Criação

24 Apesar dos problemas inerentes na teoria da evolução, a crença na criação é hoje considerada anticientífica, e até mesmo excêntrica. Por que se dá isso? Por que até mesmo uma autoridade tal como Francis Hitching, que honestamente indica as fraquezas da evolução, rejeita a idéia da criação?11

Novamente, aparecem aqui uma série de problemas numa só frase. Em primeiro lugar, Francis Hitching é uma autoridade apenas, talvez, no que diz respeito aos fenômenos paranormais, vidência e outra palha que aparece em programas tablóides de televisão. Portanto a pergunta que o parágrafo faz acerca de Hitching nem sequer tem sentido. Em segundo lugar, Hitching responde de forma bem clara na página citada: "tendo rejeitado a síntese neo-Darwinista por ser inadequada para responder a estas e a muitas outras questões, e tendo rejeitado a explicação criacionista por não poder ser discutida, o que havemos então de pôr no seu lugar?" Como Hitching diz claramente que rejeita a posição criacionista porque não pode ser discutida, temos de nos interrogar acerca das capacidades de leitura e compreensão do escritor do livro gm. Mais adiante Hitching alude às suas idéias acerca da "evolução por meios paranormais", mas é muito vago (por razões óbvias) acerca do que quer dizer com isso.

Michael Denton explica que a evolução, apesar de todas as suas falhas, continuará a ser ensinada, porque as teorias relacionadas com a criação "invocam causas francamente sobrenaturais".12 Em outras palavras, o fato de que a criação envolve um Criador torna-a inaceitável.

O esforço para separar a religião da ciência e de tudo o resto é forte e é compreensível. Quando a religião invoca a idéia de Deus como a fonte última e depois contradiz-se na questão de qual é a origem de Deus, é evidente que os religionistas não têm as respostas definitivas para a questão das origens, não mais do que qualquer outra pessoa.

Este certamente é o mesmo círculo vicioso que já encontramos no caso dos milagres: Milagres são impossíveis porque são milagrosos!

É ridículo quando os escritores da Watchtower se queixam de raciocínio circular, pois as publicações deles estão repletas de exemplos disso.

25 Além disso, a própria teoria da evolução é profundamente suspeita do ponto de vista científico. Michael Denton prossegue: "Visto ser basicamente uma teoria de reconstrução histórica, [a teoria da evolução, de Darwin,] é impossível de ser verificada por experimentos ou pela observação direta, como é normal na ciência.... Além disso, a teoria da evolução trata duma série de eventos ímpares, a origem da vida, a origem da inteligência, e assim por diante. Eventos ímpares não podem ser repetidos e não podem ser submetidos a nenhuma espécie de investigação experimental."13

As afirmações de Denton são verdadeiras, conforme expliquei anteriormente. Isso significa que não podemos provar ou refutar nada nas ciências históricas da maneira que podemos em ciências como a física e a química. Nas ciências históricas temos uma confiança nas conclusões que é de certo modo "estatística": a melhor explicação que podemos apresentar é o melhor que conseguimos até que (ou a menos que) arranjemos algo melhor. E qual é o problema? Nenhum cientista, em contraste com dogmáticos como os membros do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, dirá com 100% de certeza que algo ocorreu no passado. Mas isto não é um problema porque, em contraste com certos líderes religiosos, os cientistas não dizem que falam por Deus.

A verdade é que a teoria da evolução, apesar da sua popularidade, está cheia de falhas e problemas. Ela não apresenta nenhum bom motivo para se rejeitar o relato bíblico sobre a origem da vida. O primeiro capítulo de Gênesis fornece um relato inteiramente razoável de como estes "eventos ímpares", que "não podem ser repetidos", vieram a acontecer durante os 'dias' criativos que se estenderam por milênios.

A Igreja Católica justificou a sua posição a respeito de Galileu dessa maneira.

Para uma refutação completa do livro Criação, publicado pela Watchtower em 1985, e uma análise detalhada de muitos dos assuntos discutidos acima, veja o meu ensaio "The Watchtower Society's View of Creation and Evolution" ["A Opinião da Sociedade Torre de Vigia Sobre a Criação e a Evolução"].

Que Dizer do Dilúvio?

26 Muitos apontam outra suposta contradição entre a Bíblia e a ciência moderna. No livro de Gênesis lemos que, há milhares de anos, a iniqüidade dos homens era tão grande, que Deus determinou destruí-los. Todavia, mandou que o homem justo Noé construísse uma grande embarcação de madeira, uma arca. Daí, Deus trouxe um dilúvio sobre a humanidade. Somente Noé e sua família sobreviveram, junto com representantes de todas as espécies animais. O Dilúvio era tão enorme, que "ficaram cobertos todos os altos montes que havia debaixo de todos os céus". -- Gênesis 7:19.

27 Donde veio toda esta água para cobrir a terra inteira? A própria Bíblia responde. Na parte inicial do processo de criação, quando a expansão da atmosfera começou a tomar forma, passou a haver "águas ... debaixo da expansão" e "águas ... por cima da expansão". (Gênesis 1:7; 2 Pedro 3:5)

Mais uma vez, encontramos uma incompreensão grosseira por parte do escritor da Watchtower, não apenas da Bíblia, mas também da ciência. Embora a Sociedade venha defendendo durante décadas a noção de que a expressão "as águas acima" se refere a uma grande massa de água acima da atmosfera, isto é facilmente refutado pelo Salmo 148:4: "Louvai [a Jeová] céus dos céus, e vós, águas acima dos céus." Que "águas acima dos céus" existiam nos dias do salmista? Apenas as nuvens. Portanto, o salmista estava a referir-se às nuvens que obviamente trazem a chuva e portanto Gênesis, ao falar das "águas acima", está simplesmente a mencionar as nuvens que trazem chuva. Infelizmente para o ponto de vista da Watchtower, a atmosfera só pode conter água suficiente para "inundar" a terra numa profundidade de uns 7 ou 8 centímetros.

De modo similar, é fácil ver que Gênesis está a falar do céu quando menciona "a expansão". Esta "expansão" é simplesmente algo que se prolonga horizontalmente por uma longa distância, como "algo fundido" (note a expressão hebraica "raquia") e refere-se obviamente à aparência do céu azul. É por isso que Gênesis 1:20 menciona criaturas voadoras sobre a face da expansão dos céus. É exatamente isso que vemos quando olhamos para cima e vemos pássaros a voar através da expansão do céu.

Quando veio o Dilúvio, a Bíblia diz: "Abriram-se as comportas dos céus." (Gênesis 7:11) Evidentemente, as "águas ... por cima da expansão" caíram e forneceram grande parte da água para a inundação.

Ah, "evidentemente". Sim senhor, que evidência tão convincente.

Atendendo ao Salmo 148:4, temos de nos interrogar sobre a completa falta de capacidade de raciocínio do escritor da Watchtower. As nuvens do céu só podem conter a mesma quantidade de humidade que o ar; isto é cerca de talvez uns 7 ou 8 centímetros -- o que dificilmente chega para provocar um dilúvio global. É este tipo de desatenção quanto aos pormenores quantitativos que mete tantas vezes os escritores religiosos em problemas. Podem dizer "muitos" quando eles próprios pensam numa "dúzia", e quando a fonte original está a falar de "milhares". Sem serem específicas, as pessoas desonestas ou ignorantes cometem muitos abusos.

28 Compêndios modernos tendem a rejeitar um dilúvio universal. De modo que temos de perguntar: É o Dilúvio apenas um mito, ou aconteceu realmente? Antes de responder a isso, devemos notar que posteriores adoradores de Jeová aceitavam o Dilúvio como história genuína; não o encaravam como mito. Isaías, Jesus, Paulo e Pedro estavam entre aqueles que o mencionaram como algo que realmente aconteceu. (Isaías 54:9; Mateus 24:37-39; Hebreus 11:7; 1 Pedro 3:20, 21; 2 Pedro 2:5; 3:5-7)

É apresentado o raciocínio circular do costume: o que a Bíblia diz é verdade porque alguns dos seus escritores o dizem.

Mas há perguntas que precisam de respostas a respeito deste Dilúvio universal.

O "understatement" do ano.

As Águas do Dilúvio

29 Primeiro, não é muito extremista a idéia de toda a terra ter ficado inundada? Na realidade, não é, não. De fato, a terra ainda está inundada até certo ponto. Setenta por cento dela está coberta por água e apenas 30 por cento dela é terra seca. Além disso, 75 por cento da água potável da terra está presa em geleiras e nas calotas polares. Se todo este gelo fosse derreter-se, o nível do mar ficaria muito mais elevado. Cidades tais como Nova Iorque e Tóquio desapareceriam.

Correto. As estimativas variam entre 90 e 180 metros.

30 Além disso, A Nova Enciclopédia Britânica diz: "A profundidade média de todos os mares foi calculada em 3.790 metros, uma cifra consideravelmente maior do que a elevação média da terra acima do nível do mar, que é de 840 metros. Se a profundidade média for multiplicada pela sua respectiva área de superfície, o volume do Oceano Mundial será 11 vezes superior ao da terra acima do nível do mar."14 Portanto, se tudo fosse nivelado -- se os montes fossem achatados e as profundas bacias marítimas enchidas -- o mar cobriria a terra inteira numa profundidade de milhares de metros.

É verdade. Uma profundidade cerca de 2.440 metros deve estar perto do valor exato.

31 Para o Dilúvio poder acontecer, as bacias marítimas antediluvianas devem ter sido mais rasas e os montes mais baixos do que agora. É isto possível? Pois bem, certo compêndio diz: "Onde agora se elevam montes a alturas estonteantes, antigamente, há milhões de anos, estendiam-se oceanos e planícies numa monotonia plana.... Os movimentos das placas continentais fazem a massa terrestre elevar-se a uma altura em que apenas os mais resistentes animais e plantas podem sobreviver, e, no outro extremo, mergulhar e jazer em esplendor oculto bem abaixo da superfície do mar."15

Isto parece impressionante até olharmos para as magnitudes e escalas de tempo envolvidas. O problema aqui é que métodos de datação extremamente sólidos indicam que estes movimentos para cima e para baixo das placas tectónicas ocorrem em períodos de dezenas de milhões de anos. A separação da América do Norte da Europa e da África durou dezenas de milhões de anos e ainda está a ocorrer. Os Himalaias têm estado a elevar-se há cerca de 20 milhões de anos. Apesar disso, o escritor da Watch Tower Society acha que isto pode ter ocorrido durante os últimos escassos milhares de anos, e em particular, cerca de 4.400 anos atrás, segundo os métodos de datação mais recentes da Watch Tower Society. Portanto vemos aqui uma discrepância de três ou quatro ordens de magnitude entre as afirmações da Watch Tower Society e aquilo que a ciência mostrou. Por essa razão, quando o livro gm cita uma fonte científica, isso é dissimulação, na melhor das hipóteses. O escritor não prova o seu argumento e a "evidência" que apresenta em seu apoio é confrangedoramente pobre.

Visto que os montes e as bacias marítimas se elevam e abaixam, é evidente que, em certa época, os montes não eram tão altos como agora e as grandes bacias marítimas não eram tão fundas.

É bom que o escritor tenha dito isso. É como dizer que eu antigamente não era tão alto como sou agora. Novamente, o problema é que não apresentam absolutamente nenhuma informação quantitativa. Sem essa informação, a especulação sobre as 'subidas' e 'descidas' não tem sentido nenhum.

32 O que aconteceu com as águas inundantes após o Dilúvio? Elas devem ter drenado para as bacias marítimas. Como? Os cientistas acreditam que os continentes repousam sobre enormes placas. O movimento destas placas pode causar mudanças no nível da superfície da terra.

Mais uma vez, encontramos afirmações acerca de mudanças mas não dizem nada acerca da escala de tempo ou acerca das mudanças físicas que isso requereria. A separação da placa da América do Norte da África e da Europa tem estado a ocorrer há mais de 100 milhões de anos, segundo métodos científicos fiáveis. Segundo a Sociedade, isto tem estado a ocorrer apenas há cerca de 4400 anos. Estamos a falar de uma discrepância de cinco ordens de magnitude.

Em alguns lugares, atualmente, há grandes abismos subaquáticos de mais de 10 km de profundidade nos limites das placas.16 É bem provável que -- talvez causado pelo próprio Dilúvio -- essas placas se tenham movido, o fundo do mar se tenha abaixado e se tenham aberto grandes valas, permitindo que a água drenasse da massa terrestre.

A ignorância que o escritor mostra acerca das quantidades aqui envolvidas é simplesmente incrível. É certo que estes abismos subaquáticos são os lugares mais profundos do oceano, mas são muito raros quando comparados com a profundidade normal do fundo oceânico, que é cerca de 3.600 metros. Estes abismos só ocorrem nas fronteiras entre algumas "placas" que estão em colisão e só contêm uma fracção ínfima do volume de água nas bacias oceânicas. Além disso, os geólogos descobriram que não ocorreu nenhuma mudança de vulto na configuração dos fundos oceânicos nos tempos históricos. Pelo contrário, a configuração dos oceanos e dos continentes tem permanecido bem estável em pequenas escalas de tempo, por centenas de milhões de anos. Os continentes movem-se, mas quando o movimento ocorre à mesma taxa que as unhas crescem, não é perceptível de ano para ano. Nem em nenhuma outra escala em que a humanidade normalmente trabalha, exceto pelo uso de técnicas de medição especiais.

Portanto, afirmar que o afundamento das "grandes valas" explica para onde as águas do dilúvio foram, mostra ignorância tanto a respeito das escalas de tempo em que as placas tectónicas se movem, como a respeito da quantidade de água que essas "valas" contêm.

Vestígios do Dilúvio?

33 Se admitimos que um grande dilúvio pode ter acontecido, então por que é que os cientistas não encontraram nenhum vestígio dele?

Não encontraram nenhum vestígio precisamente porque o dilúvio não aconteceu. Repare que o escritor da Watchtower não mostrou de maneira nenhuma que tal dilúvio podia ter acontecido.

Eles talvez o tenham encontrado, mas interpretaram a evidência de modo diferente. Por exemplo, a ciência ortodoxa ensina que a superfície da terra foi modelada em muitos lugares por poderosas geleiras, durante uma série de épocas glaciais. Mas a aparente evidência de atividade glacial pode às vezes ser o resultado da ação de água. É bem provável, então, que parte da evidência do Dilúvio seja interpretada erroneamente como evidência duma época glacial.

Esta idéia remonta à noção da Sociedade, anterior a 1980, segundo a qual não existiram nenhumas eras glaciares e toda a evidência em apoio das eras glaciares era na realidade evidência de um dilúvio. Repare que mais uma vez não é apresentada nenhuma evidência. Só dizem generalidades vagas.

Na realidade, existe uma grande riqueza de evidência que mostra que um dilúvio global não poderia ter ocorrido em nenhum momento dos últimos milhões de anos. Existem registos históricos ininterruptos do Egito e da China que atravessam exatamente o período de tempo em que, segundo defende a Watch Tower Society, o dilúvio ocorreu. Teríamos de mandar borda fora toda a ciência da geologia se os geólogos fossem incompetentes a ponto de interpretarem tão mal a evidência. Consideremos apenas um exemplo:

O leitor certamente notou, pelo que foi dito acima, que se a terra fosse completamente nivelada, os oceanos cobri-la-iam numa profundidade de cerca de 2.440 metros. Isso estabelece um limite de cerca de 2.440 metros para as montanhas mais altas que podiam ser cobertas pelas águas do dilúvio. Mas existem muitas montanhas que são muito mais altas do que isso! Então, isso significa que todas as montanhas que são mais altas do que 2.440 metros devem ter-se formado depois do dilúvio. Isso significa que os Himalaias, os andes, as montanhas rochosas e muitas outras só existem há alguns milhares de anos. Mas há muita evidência que prova que essas montanhas têm milhões de anos. Que evidência é que a Sociedade deu para as suas afirmações a respeito da altura das montanhas? Zero.

Considere também a ilha grande do Hawai. É a maior montanha do mundo, se medida desde a sua base no fundo do Oceano Pacífico. Tem uns 9.000 metros de altura e quase 500 quilômetros de largura. Tem cerca de um milhão de anos é apenas a mais recente de uma cadeia de vulcões que se estendem até à península da Kamchatka, a milhares de quilômetros de distância. Alguns destes vulcões têm estado a afundar-se no oceano. Se a Ilha Grande já existisse antes do dilúvio, então parte dela ficaria entre 3.000 e 6.000 metros acima das águas do dilúvio. A alternativa é que esta massa gigante de lava tenha crescido desde praticamente nada até se tornar na maior montanha do mundo em cerca de 3.000 anos! Mais uma vez, a Sociedade não apresenta nenhuma evidência de que tal coisa pudesse ter ocorrido. O escritor do livro gm provavelmente desconhece por completo este tipo de problemas.

34 Tem havido enganos similares. Lemos a respeito do tempo em que os cientistas desenvolveram sua teoria das épocas glaciais: "Para eles, houve épocas glaciais em todo estágio da história geológica, em harmonia com a filosofia da uniformidade. Um cuidadoso reexame da evidência, feita em anos recentes, porém, rejeitou muitas destas épocas glaciais; formações anteriormente identificadas como morenas glaciais foram reinterpretadas como leitos depositados por enxurradas de lama, deslizamentos submarinos de terra e correntes turvas: avalanches de águas turvas que depositam sedimentos, areia e cascalho no leito fundo do oceano."18

Embora estas afirmações sejam verdadeiras, não têm nada que ver com a questão de saber se os conhecimentos atuais estão corretos. Seguindo essa lógica, tudo o que a Watch Tower Society ensina agora é suspeito devido a todos erros que eles fizeram no passado. Mais uma vez, notamos uma duplicidade de critérios -- um critério para a Sociedade e outro critério para todos os restantes. Também notamos que mais uma vez o escritor da Watchtower não apresenta nenhuns dados que fundamentem a sua alegação, apenas vimos argumentos genéricos acerca de como "as pessoas podem estar erradas".

35 Outra evidência a favor do Dilúvio parece existir na documentação fóssil. Em certa época, segundo esta documentação, grandes tigres-dentes-de-sabre caçavam suas presas na Europa, cavalos maiores do que quaisquer atualmente vivos percorriam a América do Norte e mamutes percorriam a Sibéria em busca de alimentos. Daí, em todo o mundo, espécies de mamíferos se tornaram extintas. Ao mesmo tempo, houve uma repentina mudança do clima. Dezenas de milhares de mamutes foram mortos e rapidamente congelados na Sibéria. Alfred Wallace, bem-conhecido contemporâneo de Charles Darwin, achava que essa ampla destruição deve ter sido causada por algum excepcional evento mundial.19 Muitos têm argumentado que este evento foi o Dilúvio.

Este é um mito comum espalhado por pseudo cientistas e charlatães em geral. Remonta ao fim do século 19 e foi largamente investigado por um tal Henry Howorth, um geólogo excêntrico que não conseguia pensar noutra interpretação para a descoberta de grandes animais congelados no Árctico, a não ser uma grande catástrofe. Infelizmente, Howorth e outros interpretaram de forma muito incorreta a evidência e pensaram que foram instantâneos os acontecimentos que desde então se provou terem ocorrido ao longo de uns 30.000 anos. As extinções mencionadas duraram pelo menos 8.000 anos. Por exemplo, uma espécie de mamute anão ainda vivia em certas ilhas mediterrânicas há apenas 4.000 anos, enquanto o seu 'primo', o mamute da Sibéria, morreu uns 6.000 anos antes disso.

Na verdade, não existe qualquer evidência de que num único ponto do tempo um elevado número de grandes mamutes se tenha extinguido, e que tenha havido em simultâneo uma mudança súbita no clima. Houve certamente uma mudança no clima entre cerca de 18.000 e 10.000 anos atrás, durante a qual muitos animais se extinguiram, mas isso foi uma tendência para o aquecimento, que assinalou o fim da última era glaciar.

Não existe absolutamente nenhuma evidência para as alegações da Sociedade de que "dezenas de milhares de mamutes foram mortos" simultaneamente e depois "rapidamente congelados na Sibéria". Mais uma vez, isto deve-se às horríveis deturpações de Howorth e outros. Foram encontrados alguns grandes mamutes mas depois de uma análise cuidadosa provou-se que morreram de causas perfeitamente naturais, foram gradualmente congelados, e depois descongelaram parcialmente antes de congelarem novamente. Por exemplo, a página 114 do livro gm mostra o clássico mamute congelado da Sibéria chamado Bereszovka, e comenta que ele foi "rapidamente congelado". Contudo, uma análise dos relatórios dos cientistas russos que demoraram dois anos a recuperar o cadáver mostra que este estava muito decomposto no interior. As partes exteriores estavam congeladas e suficientemente bem preservadas a ponto de alguns cães que puxavam os trenós terem comido parte da carne, mas o homem que a desenterrou apercebeu-se que a carne já estava em mau estado quando foi congelada. Um dos aspectos mais elucidativos do relatório dizia respeito ao cheiro insuportável da carcaça, que até impregnava o chão congelado das redondezas, o que prova que o cadáver se decompôs durante o processo de congelação.

Talvez a melhor refutação da noção de "grandes números de animais rapidamente congelados" é a descoberta, feita em 1979, da carcaça de um bisonte congelado no Alasca. Foi chamado "Blue Babe" ["Bebé Azul"] devido aos cristais minerais azuis que se tinham acumulado na pele durante os mais de 30.000 anos que permaneceu no solo permanentemente congelado. Descobriu-se que o bisonte, de um tipo agora extinto, tinha sido morto e comido por leões. Descobriu-se que foram leões que o mataram pois encontrou-se um pedaço de dente de leão que se partiu e ficou pegado à carne congelada dos quartos traseiros. Os leões comeram a maior parte do corpo, deixando a pele e parte dos quartos traseiros. A cabeça estava praticamente intacta. Não existe nenhuma hipótese de tal coisa ter acontecido durante os eventos cataclísmicos de um dilúvio como aquele que o escritor da Watch Tower Society descreve.

Para uma análise detalhada da questão do dilúvio, veja o meu ensaio "The Flood" ["O Dilúvio"].

36 Um editorial da revista Biblical Archaeologist observava: "É importante que seja lembrado que a história de um grande dilúvio é uma das mais amplamente difundidas tradições da cultura humana ... No entanto, atrás das tradições mais antigas, encontradas em fontes do Oriente Próximo, é bem possível ter realmente havido um dilúvio de proporções gigantescas, datando de um dos períodos pluviais ... há muitos milhares de anos."20

Sejam lá o que forem estes "períodos pluviais", de certeza essa não é uma noção da geologia atual. De fato, é uma noção de idéias antigas acerca da geologia, mas foram na sua maior parte abandonadas quando a plena extensão das eras glaciares se tornou evidente durante as décadas de 1960 e 1970. Esta revolução no entendimento das causas e história das eras glaciares é semelhante à revolução causada pela noção das placas tectónicas. Para uma discussão detalhada, veja o meu ensaio "The Flood" ["O Dilúvio"]. Resumidamente, as eras glaciares aconteceram a intervalos de cerca de 100.000 anos durante os últimos três milhões de anos.

Seja como for, nas décadas de 1920 e 1930, o arqueólogo Leonard Woolley descobriu na Mesopotâmia os vestígios de uma grande inundação. Infelizmente para os literalistas bíblicos, mostrou-se que esteve limitada àquela região. É muito provável que tenha sido esta inundação, ou outra grande inundação local, nas redondezas dos rios Tigre e Eufrates, que deu origem à lenda que se espalhou ao redor do mundo.

Os períodos pluviais eram tempos em que a superfície da terra era muito mais úmida do que agora.

Verdadeiro por definição. Do Webster's Dictionary: "pluvial: um período prolongado de clima húmido." Essas palavras não significam nada sem uma explicação específica do escritor acerca do que quer dizer. É claro que o escritor da Watchtower não dá essa explicação.

Os lagos de água doce, em todo o mundo, eram muito maiores.

Durante as eras glaciares, as partes da terra que não estavam congeladas eram mais húmidas do que atualmente, em grande parte porque as zonas extremamente frias eram mais secas. Assim, o sudoeste americano era suficientemente húmido para se formarem grandes lagos que duraram dezenas de milhares de anos. O Great Salt Lake [Grande Lago Salgado], no Utah, é um ínfimo remanescente do "Lake Bonneville" [Lago Bonneville], que era aproximadamente do mesmo tamanho que o atual Lago Michigan. As suas linhas de costa, que estavam cerca de 300 metros acima do nível atual do Grande Lago Salgado, podem ser vistas hoje traçadas nas montanhas à volta da grande bacia que contém Salt Lake City. Muitas outras linhas de costa também podem ser vistas, mostrando que o nível do lago permaneceu constante durante longos períodos de tempo em vários níveis. Num ponto há cerca de 13.000 anos atrás, o "Lake Bonneville" transbordou das suas margens e espalhou-se para a bacia do Snake River [Rio Cobra], provocando uma enorme inundação cujos vestígios ainda podem ser vistos hoje. A inundação aprofundou cerca de 30 metros o leito de rocha antes de diminuir, baixando o nível do lago que depois permaneceu constante o tempo suficiente para gravar uma nova linha de costa nas montanhas à volta do Grande Lago Salgado. A grande inundação que resultou do transbordar do lago deixou traços que podem ser vistos hoje em Snake River Canyon e em Columbia Gorge.

Uma seqüência particularmente grande de inundações ocorreu na mesma área geral entre aproximadamente 14.000 e 12.000 anos atrás. O grande glaciar continental que cobriu grande parte do Canadá ocidental moveu-se para sul e bloqueou a entrada do Rio Clark Fork na fronteira entre Idaho e Montana. Formou-se um grande lago por detrás desta barragem de gelo, que depois rebentou provocando uma grande inundação sobre a maior parte do Estado de Washington. Essa inundação alargou drasticamente a Columbia Gorge e criou um lago que encheu a maior parte do Vale Willamette ao sul de Portland, Oregon, durante anos. No entanto, este não foi um acontecimento único, pois o gelo moveu-se novamente para sul, bloqueando o Rio Clark Fork e formando outro lago que depois transbordou novamente. Este processo aparentemente repetiu-se pelo menos 40 vezes num período de 2.000 anos.

Não há qualquer hipótese de estes acontecimentos se encaixarem nas noções que a Watch Tower Society tem a respeito do dilúvio. Ignorantes como a Watch Tower Society não têm nada a dizer sobre estes assuntos.

Teoriza-se que a umidade era causada por pesadas chuvas associadas com o fim das épocas glaciais. Mas alguns sugeriram que, em uma ocasião, a extrema umidade da superfície da terra foi o resultado do Dilúvio.

Ah, muito bem! Uma tentativa de fazer humor. Infelizmente essa tentativa só resulta naqueles que são ignorantes em geologia.

Esta tentativa falhada de humor revela bem a mentalidade daqueles que escrevem para a Watch Tower Society. A "humidade" que em tempos foi "teorizada" como tendo sido "causada por pesadas chuvas associadas com o fim das épocas glaciais" é conhecida por ter durado dezenas de milhares de anos. É por isso que lagos como o Lake Bonneville surgiram e duraram longos períodos de tempo. Mas o escritor do gm demonstra mais uma vez uma ignorância extrema a respeito do conceito de tempo ao dizer que "em uma ocasião, a extrema umidade [...] foi o resultado do Dilúvio". Com isso ele mostra que não sabe absolutamente nada de geologia nem da evidência física que está por detrás da ciência da geologia.

A Humanidade Não se Esqueceu

37 O professor de geologia John McCampbell escreveu certa vez: "As diferenças essenciais entre o catastrofismo bíblico [o Dilúvio] e o uniformitarismo evolucionista não se devem aos dados fatuais da geologia, mas às interpretações destes dados. A interpretação preferida depende em grande parte da formação e das pressuposições de cada estudante."21

Note que a citação é tirada de The Genesis Flood [O Dilúvio de Gênesis], um livro escrito pelos arqui criacionistas [defensores do conceito de que a terra tem apenas 6.000 anos] Henry Morris e John Whitcomb, e que foi publicado pela primeira vez em 1961. Sejam quais forem as pressuposições de McCampbell, a declaração dele está completamente errada, à luz dos desenvolvimentos da geologia desde 1961. Note também que em 1989, quando o livro gm foi escrito, a Sociedade tinha abandonado algumas das suas idéias mais antigas acerca das eras glaciares e acerca do dilúvio, e tinha publicado várias denúncias violentas dos criacionistas que defendem uma terra de 6.000 anos -- os mesmíssimos que o livro gm invoca em seu apoio aqui! Portanto o escritor do livro gm não está apenas errado quanto à geologia, mas é inconsistente com o ensino da Watchtower em publicações anteriores! Naturalmente, a maioria dos leitores que são Testemunhas de Jeová ignoram completamente estes fatos.

38 Que o Dilúvio realmente aconteceu é visto no fato de que a humanidade nunca o esqueceu. Em todo o mundo, em lugares tão afastados entre si como o Alasca e as Ilhas dos Mares do Sul, existem histórias antigas sobre ele. Civilizações nativas, pré-colombianas, da América, bem como aborígines da Austrália, todos têm histórias sobre o Dilúvio. Embora alguns relatos difiram nos pormenores, o fato básico de que a terra foi inundada e que apenas poucos humanos foram salvos numa embarcação feita pelo homem aparece em quase todas as versões.

Este argumento a respeito da idéia muito difundida de um dilúvio nos tempos antigos é o mais forte que a Sociedade tem. Mas está longe de ser conclusivo, e certamente não prova o argumento do escritor do livro gm.

Conforme mencionado anteriormente, as duas culturas da antigüidade melhor documentadas -- a Egípcia e a Chinesa -- têm registos que remontam a mais de 5.000 anos e no entanto estes não mostram nada a respeito de um dilúvio. Isto contradiz completamente a cronologia da Watch Tower Society que coloca o dilúvio em 2.370 A.E.C., há cerca de 4.400 anos.

A única explicação de tal ampla aceitação é que o Dilúvio foi um evento histórico.

Errado. Há várias explicações. Uma delas é que a lenda antiga a respeito de um dilúvio veio dos Sumérios (ou de quem teve o azar de ficar atolado na inundação mesopotâmica de há 5.000 anos), era uma lenda atraente e foi automaticamente contada e recontada e passada de cultura em cultura. Tudo o que mostra é a eficácia com a qual as lendas antigas, se forem suficientemente "boas", se podem espalhar.

39 Portanto, nos aspectos essenciais, a Bíblia está em harmonia com a ciência moderna.

Só fazendo largas concessões que vão contra o literalismo bíblico, e se estivermos dispostos a ignorar detalhes em favor de noções vagas, mal definidas. O relato de Gênesis é contrariado em detalhe por ciência extremamente sólida. A única maneira de salvar Gênesis é interpretar as suas declarações de forma alegórica, exatamente como os literalistas foram forçados a fazer com as declarações acerca do movimento do sol.

Onde há um conflito entre as duas, a evidência dos cientistas é duvidosa.

Esta frase é muito mais um reflexo do estado mental do escritor do que uma avaliação objetiva da evidência. Em praticamente todos os casos em que há conflito, uma consideração cuidadosa de toda a evidência mostra que a área mais questionável é a interpretação dos que lêem a Bíblia de forma literal.

Onde concordam, a Bíblia muitas vezes é tão exata, que temos de crer que ela obteve suas informações duma inteligência sobre-humana.

"Temos de crer". Essa é uma declaração muito clara que mostra o estado mental do escritor e é uma admissão honesta da natureza emocional do literalismo bíblico.

De fato, a concordância da Bíblia com a ciência provada fornece evidência adicional de que ela é a palavra de Deus, não a de homem.

Note que "ciência provada" é um eufemismo para "qualquer coisa com a qual a Watchtower Society concorda", e portanto toda essa frase é um argumento completamente circular: "como a Bíblia concorda conosco, isso prova que ela é a palavra de Deus". Isto é mais um reflexo da crença da Watch Tower Society de que Deus fala através dos seus líderes. É completamente disparatado.


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