O Falhanço das Diatribes Proféticas de Isaías

Farrell Till


Os inerrantistas parecem nunca se cansar de procurar vindicação da Bíblia nos cumprimentos de profecias. Nenhum cético que discuta a Bíblia com um biblicista pode questionar a sua origem divina durante muito tempo sem que ouça o biblicista dizer: "Bem, que dizer de todos os cumprimentos de profecias?"

O melhor modo de responder a esta questão é com outra questão: "Que cumprimentos de profecias?" Isto por si só pode ser suficiente para fazer o biblicista arrepiar caminho, porque ele pode perfeitamente ser um cristão típico que não conhece a Bíblia e está simplesmente a repetir algo que ouviu mas acerca do qual não sabe o suficiente para discutir com inteligência. Se, porém, o biblicista é alguém que tem em mente cumprimentos de profecias específicas, eles podem geralmente ser refutados simplesmente analisando a alegada profecia no seu contexto para apontar partes da profecia que parecem estar ausentes no evento que [alegadamente] a cumpre. Tais partes ausentes podem quase sempre ser identificadas. Tenho discutido em artigos anteriores esta abordagem ao debate das alegações de cumprimento de profecias, por isso não vou repeti-la aqui.

Outro método efetivo para usar em tais discussões é inverter as posições e perguntar ao biblicista: "Bem, que dizer de todos os falhanços de profecias?" É claro que para fazer isto temos de estar familiarizados com exemplos específicos de falhanços de profecias. Vários destes falhanços têm sido discutidos em artigos anteriores, sendo o mais freqüentemente mencionado a profecia de Ezequiel contra Tiro. Um modo simples de tornar esta profecia falhada mais problemática para o biblicista é compará-la com a profecia de Isaías contra Tiro e focar as inconsistências entre as duas. Vimos em discussões anteriores da profecia de Ezequiel que ele predisse que Tiro seria destruída e nunca seria reconstruída (Ezequiel 26:14, 21; 27:36, 19), mas nas suas muitas tiradas contra as nações à volta de Israel, Isaías proferiu uma profecia contra Tiro que predisse uma destruição que não foi tão severa como a de Ezequiel. Em Isaías 23:1, ele disse: "O fardo de Tiro. Uivai navios de Társis, porque foi destruída, para que não haja casa nem lugar em que se entre: isto lhes foi revelado desde a terra de Quitim." A profecia continuou num estilo típico através do capítulo, predizendo destruição e devastação, mas a partir do versículo 13 Isaías disse claramente que a destruição de Tiro seria apenas temporária, não seria permanente:

Olhai para a terra dos caldeus! Este é o povo; não foi a Assíria. Destinaram Tiro para os animais selvagens. Erigiram suas torres de sítio, destruíram seus palácios, fizeram dela uma ruína. Uivai, navios de Társis, pois a vossa fortaleza foi destruída. A partir daquele dia Tiro será esquecida durante setenta anos, o tempo de vida de um rei. Ao fim de setenta anos acontecerá a Tiro assim como na canção de uma prostituta: Toma uma harpa, vai pela cidade, ó prostituta esquecida! Faz melodias doces, faz muitas canções, a fim de que sejas lembrada. Ao fim de setenta anos, Iavé visitará Tiro, e ela terá de retornar ao seu comércio, e prostituir-se-á com todos os reinos do mundo sobre a face da terra. A sua mercadoria e o seu pagamento serão dedicados a Iavé; os lucros dela não serão guardados nem acumulados, mas a sua mercadoria fornecerá alimento abundante e bom vestuário para os que vivem na presença de Iavé. (Isaías 23:13-18, ênfase acrescentada)

Vemos assim que Isaías tinha uma opinião muito diferente sobre o destino de Tiro. Ele disse que Tiro seria destruída e esquecida durante 70 anos mas ao fim dos 70 anos Iavé visitaria Tiro e esta seria restaurada. Obviamente, poder-se-ia defender muito melhor o cumprimento desta profecia do que a de Ezequiel. No entanto, a profecia de Isaías contra Tiro representa um problema sério para os inerrantistas bíblicos. Eles têm de explicar porque foi que Isaías predisse apenas uma destruição temporária de Tiro, ao passo que Ezequiel predisse uma destruição eterna.

Os biblicistas, é claro, vão dizer que não vêem qualquer problema. Uma "explicação" favorita deles para a discrepância é dizer que Isaías, que viveu cerca de 150 anos antes de Ezequiel, se estava a referir a uma destruição de Tiro que haveria de ocorrer antes do tempo de Ezequiel, mas se é assim, então quando é que aconteceu a destruição que Isaías predisse? Mesmo se assumíssemos que a profecia de Isaías foi cumprida imediatamente depois de ele a ter feito, isto significaria que a fortaleza da ilha não existiu durante 70 dos 150 anos entre Isaías e Ezequiel. Isto deixaria apenas 80 anos para a cidade ser reconstruída antes da era de Ezequiel. Se isto aconteceu, onde está o registro? Certamente, a destruição total durante 70 anos de uma cidade tão grande entraria nos registros do tempo, mas não existem tais registros. Será que poderíamos fazer um esforço da imaginação e, usando a fórmula de Mitchell, assumir que existe uma probabilidade de 99% de a cidade ter sido destruída neste tempo mas o fato simplesmente não ter sido mencionado em registros contemporâneos? Parece muito mais provável que esta tenha sido simplesmente mais uma diatribe profética que não se materializou.


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